Crônica
O festivo
acontecimento que ora vivemos tem muita semelhança com o jubileu judaico, que,
além de seu caráter religioso, visava manter todos em estado de graça, alegando
que aquele momento era um prêmio da determinação Divina.
O Criador
também nos concedeu o privilégio de comemorar, festivamente, o octogésimo
aniversário natalício do queridíssimo Everardo Silveira, para que todos
conhecessem a gloriosa caminhada de um laureado homem no exercício da caridade,
na demonstração do desprendimento e no sagrado dever de servir.
Sem a
preocupação de provar a sua competência profissional, Dr. Everardo julgou
desnecessário expor, em seu consultório, diplomas, certificados de
especializações e de encontros abordando temas relacionados com a ciência
médica.
O dia a
dia de seu trabalho já retratava o valor do profissional e seus admiráveis
pendores como pessoa humana, permanecendo horas infindas ao lado de um enfermo
que não conhecia, ignorava a expressão de sua moradia, a denominação do seu
plano de saúde e sem a preocupação de saber se poderia ou não pagar seus
honorários.
Não
exerce a medicina apenas pelo juramento feito no dia festivo de sua formatura.
No decorrer de mais de meio século de atividade notabilizou-se pela sua
competência, elogiável desprendimento e pela grandeza de seu coração caridoso e
leal.
A
simplicidade de viver de Dr. Everardo pode perecer para os que só olham para
aparência, a figura desprezível de uma lagarta. Para Deus e para os que têm
reconhecimento e gratidão Everardo é muito importante, porque se não fora a
humilde lagarta não existia o esplendor do colorido e o encanto das belas
borboletas.
Dr.
Everardo teve o privilégio de viver um grande homem na figura de dois. Um
quando nasceu com a sagrada missão de viver para semear a concórdia e a afeição,
através de suas boas ações. O outro para exercer uma profissão levando a luz da
esperança aos desesperados, solidariedade aos humildes que só conheciam a
opressão e a oração da caridade aos excluídos da proteção e do afeto.
Despindo-se do jaleco representativo de sua graduação e do anel indicador de
sua formatura, vestiu-se com uma modesta bata, cuja brancura simboliza a pureza
de seu coração.
O
orgulhoso apresenta-se aos pobres com a aparência de grandeza, para que os
humildes sintam-se cada vez menores. Enquanto isso, Everardo deve ser
reconhecido e reverenciado como um grande homem, porque a sua simplicidade faz
com que todos, em seu redor, sintam-se grandes também.
Há algum
tempo, Quixadá parou estupefata com a notícia do acidente ocorrido com o Dr.
Everardo. Noticiaram que o querido médico havia perdido uma das mãos esmagada
pelo peso do carro que tombara violentamente.
A
apreensão do povo era plenamente justificada. As mãos de Everardo sempre foram
postas a serviço do povo, independentemente de cor, partido político ou
condição social. Suas mãos firmes e caridosas salvaram o operário submetido à
delicada cirurgia, que com seu mísero salário jamais poderia pagar. As mãos que
foram ameaçadas de ficar inertes foram as que ampararam o velho indigente e lhe
restituíram a alegria de viver.
As mãos
que ficaram algemadas sob o peso do veículo, naquela longa noite de aflição,
são as mesmas que acolheram a criança agonizante dos braços da mãe aflita, e a
fizeram, depois, sorrir agradecida com o filho curado.
Mãos de
um benevolente não podem morrer para este mundo de egoísmo e carente de amor
fraterno, porque são elas que põem flores perfumadas no jarro da vida, onde a
indiferença e o desamor teimam em cultivar os espinhos que martirizam e ferem.
São mãos que salvam, acariciam, levam esperança e simbolizam o afeto.
Everardo,
que se considerava desacompanhado, mesmo ficando preso por várias horas na
escuridão da noite, jamais esteve sozinho. Ao seu lado estava o anjo protetor,
representado pela criança que sentiu em suas mãos os primeiros afagos na vida.
Pelos pais agradecidos aos serviços médicos que jamais foram cobrados. Pelos
velhos indigentes que o espírito caridoso de Everardo nunca abandonou.
As preces
dos pobres que encontravam em Everardo o carinho que a sociedade lhes negava
impediram que aquelas mãos fossem amputadas e excluídas da prática do bem.
Deus, na
sua bendita sapiência, não permitiu que um acidente mutilasse o indulgente
médico quixadaense, porque suas mãos precisavam continuar a serviço dos
humildes e dos pobres desamparados. O Senhor, protegendo Everardo, mostrou que
as mãos não foram feitas para trair, açoitar e ferir, que elas só são úteis,
belas, abençoadas e queridas quando postas a serviço da harmonia, da paz e do
amor.
Parabéns
Dr. Everardo. Sua atuação, como médico, político e como cidadão, mostra a
estrada que nos conduzirá à presença de Deus, após o cumprimento de uma honrosa
missão aqui na terra.
Para seus
filhos, admirados pela lhaneza no tratamento com os humildes, você não deixará
legado de bens materiais. Na memória deles, porém, permanecerá indelével a
figura impoluta de um pai, que será sempre a luz que, sob seu clarão, jamais
tropeçarão na maldade, na injustiça e no desamor. O seu filho Ricardo, médico,
com certeza, dará continuidade à sua abençoada missão, seguindo a trilha que
você desbravou com tenacidade e a percorreu com dignidade e extraordinária
capacidade profissional.
Everardo
olhe para a estrada que você palmilhou e veja as suas pegadas na areia do
oceano do amor, porque, por mais violento que seja o vendaval da maldade, não
será capaz de apagar os vestígios dos que caminham em busca de Jesus.
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