Maior oferta de crédito segue para pesquisas feitas em grandes empresas |
Mais dinheiro para quem quer inovar. A nova política brasileira já é
perceptível em alguns números: desde o começo do ano, o caixa do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento) destinado à inovação saltou de 2
bilhões de reais para 4,2 bilhões – com as menores taxas de
financiamentos oferecidas pela instituição.
No entanto, a distribuição do recurso ainda segue uma tradição típica
brasileira: as corporações são as que mais têm acesso aos
financiamentos. "Faz parte do nosso histórico, as grandes empresas têm
mais facilidade em acessar recursos do que as pequenas", conclui Carlos
Alberto dos Santos, diretor do Sebrae, a agência de apoio às micro e
pequenas empresas.
Mas são elas a maioria no país: 5,3 milhões empresas de pequeno porte
atuam no Brasil, o que equivale a 99% do total nacional Juntos, esses
empreendimentos participam de cerca 24% do Produto Interno Bruto
nacional, segundo dados do Sebrae – na Alemanha, esse índice é de 42%.
"Os setores mais inovadores no Brasil são comandados por
multinacionais, isso porque elas também têm acesso a recursos fora
daqui. Com as pequenas, a competição é difícil", comenta Alessandro
Pinheiro, do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa, gerente
da Pesquisa de Inovação Tecnológica, PINTEC.
Dos cofres ao caixa
O tema inovação passou a receber mais atenção no Brasil que cresce
economicamente. Segundo Helena Tenório, chefe do Departamento de
Inovação do BNDES, o setor que mais teve acesso aos recursos do banco
desde janeiro foi o de desenvolvimento de software. A área de engenharia
de projetos também foi uma das que mais obteve empréstimos.
Para as empresas de menor atuação e mais frágeis economicamente, o
BNDES oferece um serviço especial. "É o cartão BNDES. Com ele, as
empresas podem acessar serviços de inovação e extensão tecnológica e
pagar a prazo", acrescenta Tenório.
Mas o valor liberado por esse financiamento ainda é bem modesto: foram
544 mil reais, em 32 operações desde o começo do ano. O banco alega que
esse quadro se deve, em grande parte, ao fato de essa modalidade de
empréstimo ainda ser desconhecida, e que agora vai contar com um
trabalho de divulgação mais intenso.
Por outro lado, Tenório ressalta que o valor destinado às micro e
pequenas empresas pode chegar a 3 milhões de reais, quando se considera
como inovação critérios como avaliação de software e avaliação de
conformidade – processo em que se avalia se um produto, processo ou
serviço atende a requisitos pré-estabelecidos em normas e regulamentos
técnicos com o menor custo para a sociedade, segundo definição do INMETRO.
O diretor do Sebrae reconhece o aumento da oferta de crédito, mas diz
que o valor ainda é "insuficiente". "Precisamos mais. E ainda existe
dificuldade de acesso." Segundo Santos, existem projetos de inovação
nascidos nas pequenas empresas, mas em muitos casos eles apresentam
fragilidades segundo a avaliação dos órgãos de financiamento. "A nossa
função é dar assessoria, fazer com que o projeto atenda às exigências. E
temos conseguido", assegura.
Santos diz ser a favor dos critérios estipulados, afinal, "quem vai
colocar recursos numa empresa tem que confiar no projeto, não se trata
de uma doação". No entanto a demanda por recursos por parte dos
empreendimentos também cresce, e não está sendo atendida.
Como o Brasil inova
Dados do Pintec mostram que no Brasil 4.754 empresas realizam
atividades internas de pesquisa e desenvolvimento, o que corresponde a
4,4% da total em atividade no país. Apesar de as maiores companhias, com
500 ou mais funcionários, somarem apenas 649 desse cenário, elas
responderam por 87% do gasto total em pesquisa de inovação, que em 2008
ficou em torno de 15 bilhões de reais.
"A marca da inovação do Brasil é concentrada na aquisição de máquinas e
processos. O lançamento de um produto inovador é mais raro no Brasil",
observa Alessandro Pinheiro. Ou seja, a inovação acontece com a compra
de máquinas e equipamentos desenvolvidos no exterior, sintoma de que o
país incorpora, na verdade, tecnologia criada fora.
Os setores mais inovadores no Brasil são o automobilístico,
farmacêutico, materiais elétricos e serviços como o de tecnologia de
informação, os quais, normalmente, são comandados por grandes
multinacionais – que não são brasileiras.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Augusto Valente
FONTE:
AGÊNCIA DW-WORLD.DE
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