Crônica
Escolhemos minutos,
horas e até dias para voltar pela longa estrada que já percorremos na vida.
Nesta caminhada o fazemos de cabeça baixa, como se procurássemos os rastos que
levasse aos grandes momentos, às grandes alegrias e às inesquecíveis emoções vividas.
Logo uma tristeza invade
todo o nosso ser e um desespero nos leva às lágrimas, porque procuramos, em
vão, reviver aquilo de bom que o tempo estraçalhou na sua implacável passagem.
Inútil perseguir nossas próprias pegadas, porque o vento trouxe a poeira de bem
longe para sepultar tudo o que deixamos naqueles caminhos. Depois de tantos
anos, de fato, não adianta voltar pela mesma estrada, pois tudo se transformou.
Os pássaros que cantaram
à nossa passagem tentaram nos acompanhar e se perderam também na imensidão do
infinito. As águas dos rios e riachos, que refrescaram nossos pés, rolaram em
busca do mar e lá se perverteram, deixaram de ser dóceis, enfureceram-se,
talvez desesperadas por não puderem voltar ao sertão. Os que acenaram à nossa
passagem, agora também procuram como nós os seus velhos caminhos, e, para
desespero, as distâncias aumentam cada vez mais. As pedras que feriram nossos
pés foram jogadas para longe, saíram da beira do caminho, como se retiradas, a
fim de não servirem de marcos aos caminhantes que desejassem voltar. As árvores
que poderiam nos guiar na caminhada do reencontro, também envelheceram,
perderam suas folhas que secaram e entristeceram sob a erosão do tempo.
Enquanto tentamos o
reencontro com o que passou, o tempo ri de nossa ingenuidade, assiste risonho
ao nosso pesar, e leva para bem longe o que procuramos, deixando somente a
saudade, única coisa que encontramos, porque está presente nas várias esquinas
que dobramos.
Exaustos, com as pernas
trêmulas no transcurso do longo caminho com o corpo alquebrado pelas noites
longas de insônia, choramos a nossa solidão, reconhecendo a nossa derrota,
falando ao vento que sopra:
- Por que, tempo, você
passou e nos deixou assim perdidos, sozinhos no vazio de nossas ilusões? Para
onde levou a alegria da vida, e onde encontrou tanta tristeza para substituir
todos os nossos momentos de felicidade? Para onde você levou a mocidade feliz,
cheia de esperanças e encontrou tanta desilusão para por na velhice, e fazer do
homem uma figura que rasteja a sombra do que já foi?
Tempo, não corra, tenha
piedade de nós. Não se apresse tanto. As minhas pernas já não conseguem
caminhar com aquela rapidez de outrora e desejamos acompanhá-lo. Queremos
encontrá-lo para que você nos mostre, nem que seja por segundos, nossa imagem
do passado, pois já começamos a ter saudade do jovem que fomos. Não zombe da
fraqueza física. Espere nossa chegada e nos mostre tudo em que pomos amor, mas
que fugiu de nosso lado, sem que saibamos por que. Espere um pouco pela nossa
caminhada difícil, pois de tanto correr à sua procura estamos esgotados e já
não encontramos aquela motivação que nos fortalecia, porque você nos bateu,
enganou e nos mergulhou na saudade, onde cambaleamos, sem saber onde nos
apoiar.
Paramos para olhar para
trás. Por que você, tempo, na sua digressão também não faz uma pausa para que
possamos alcançá-lo e reviver toda a nossa alegria do passado?
Não seja cruel. Mate-nos
aos poucos, mas permita que nos encontremos com o menino que fomos. Deixe-nos
juntar os nossos brinquedos que, ingenuamente, deixamos espalhados no palco da
vida, e, novamente, encontrar a felicidade na inocência, na simplicidade e na
pureza da alma de uma criança despreocupada, cândida e feliz.
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