Estudioso aponta "vício hidrológico" como causa principal de falta de água na maior cidade do Sertão Central
A escassez do recurso hídrico e o desperdício são faces da mesma moeda numa região onde a água é bem precioso
ALEX PIMENTEL
Quixadá. "Os números não mentem jamais". A máxima gera controvérsias, mas uma estatística acompanhada de uma boa interpretação dos dados pode levar a importantes conclusões a respeito da realidade retratada em uma pesquisa. Este é o caso do estudo "Estimativa do Potencial para Captação de Água de Chuva em Quixadá", elaborado pelo geógrafo e professor Lucas da Silva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus de Quixadá.
Mestre em Manejo de Solo e Água pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Silva procurou estimar o potencial para captar água da chuva na "Terra dos Monólitos", a partir da análise da série histórica de chuvas anuais no Município, entre 1965 e 2008. Também participou da pesquisa o professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Hermes Alves de Almeida.
Os resultados desconstroem a tese de que em anos mais secos falta água para o consumo humano em Quixadá. Em cinco cenários analisados na pesquisa, o volume pluviométrico anual verificado é suficiente para que uma família com, pelo menos, quatro pessoas armazene água durante 12 meses. Admitindo-se o valor médio de chuva no Município (805 mm), o menor volume potencial de captação foi 24.150 litros (telhados com cobertura de 40 m) e o maior, 60.375 litros, para habitações com superfície de cobertura de 100 m.
Ocorrência de chuvas
Esses cinco cenários representam a ocorrência de chuvas igual à média histórica; o maior valor verificado nesses 43 anos; e os três valores que mais tendem a se repetir durante quatro anos (um ano acima da média, dois em torno da média e um ano pouco abaixo da média). Em apenas um dos cenários estudados, o total de chuvas verificado não supriu a necessidade anual de uma família. Foi o caso de 1998, quando a pluviometria no Município atingiu apenas 244,8 mm, o pior da série histórica. No entanto, conforme o estudo, a probabilidade de ocorrência de um ano como aquele é de apenas 2,2%.
Segundo o estudioso, os números mostram que o grande problema de Quixadá não está na falta de chuva, mas no armazenamento inadequado e no uso inapropriado da água. "Cheguei aqui em Quixadá durante uma ´seca horrível´ no fim de 2008. Mas logo no ano seguinte, houve muita chuva e a cidade sofreu na época. Isso é um paradoxo. Constatei que aqui existe um vício hidrológico, a esperança do povo é sempre que a chuva venha depois", constata o pesquisador.
Para Lucas da Silva, natural da Paraíba, onde o quadro meteorológico é semelhante, a primeira mudança de comportamento necessária em Quixadá é o gerenciamento do uso da água no período do inverno, de forma a armazenar o recurso hídrico para o restante do ano. "Não adianta pensar em grandes projetos de transposição e irrigação sem antes rever as tecnologias básicas de acumulação, como o uso das cisternas", defende.
O geógrafo sugere ao poder público, em parceria com os meios de comunicação, a divulgação para quais finalidades serve a água da chuva: consumo humano, cozinhar e beber. Além disso, ele indica a necessidade de uma melhor gestão do uso das cisternas bem como a ampliação dos programas de construção desse meio de armazenamento, na área urbana deste Município. A iniciativa pode se estender por toda a região.
O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que lançou no semiárido brasileiro a construção de cisternas de placas para captar água de chuvas, tornou-se política pública no primeiro governo do presidente Luís Inácio. No entanto, ainda hoje, a quantidade construída destes reservatórios ainda é bem menor do que a demanda. Além disso, as famílias não sabem usá-la corretamente.
SAIBA MAIS
ÁGUA
Para definir a quantidade de água necessária por família, a pesquisa considera dois valores, aceitos na literatura relacionada ao assunto: 14 litros por dia, para cozinhar e beber, e 20 litros/dia, inclusive para o banho
COEFICIENTE
No estudo, para se avaliar o potencial de água a ser captado em um telhado, 25% da água da chuva é desprezada. Esse percentual é o chamado "coeficiente de escoamento" e representa o volume perdido antes da armazenagem. Um milímetro de chuva equivale um litro de água por metro quadrado
DESVIO PADRÃO
No estudo, os pesquisadores chegaram à conclusão que o desvio padrão mensal da pluviometria chega a 77,6% da média de chuvas mensal e a 38% da média anual (o desvio é a dispersão em relação à média esperada). Esta situação é retrato da grande variabilidade da ocorrência de chuvas na região Nordeste
MAIS INFORMAÇÕES
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Quixadá, Estrada do Cedro, Km 05, (88) 3412.0111
Alex Pimentel
Colaborador
FONTE DIARIO DO NORDESTE
A escassez do recurso hídrico e o desperdício são faces da mesma moeda numa região onde a água é bem precioso
ALEX PIMENTEL
Quixadá. "Os números não mentem jamais". A máxima gera controvérsias, mas uma estatística acompanhada de uma boa interpretação dos dados pode levar a importantes conclusões a respeito da realidade retratada em uma pesquisa. Este é o caso do estudo "Estimativa do Potencial para Captação de Água de Chuva em Quixadá", elaborado pelo geógrafo e professor Lucas da Silva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), campus de Quixadá.
Mestre em Manejo de Solo e Água pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Silva procurou estimar o potencial para captar água da chuva na "Terra dos Monólitos", a partir da análise da série histórica de chuvas anuais no Município, entre 1965 e 2008. Também participou da pesquisa o professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Hermes Alves de Almeida.
Os resultados desconstroem a tese de que em anos mais secos falta água para o consumo humano em Quixadá. Em cinco cenários analisados na pesquisa, o volume pluviométrico anual verificado é suficiente para que uma família com, pelo menos, quatro pessoas armazene água durante 12 meses. Admitindo-se o valor médio de chuva no Município (805 mm), o menor volume potencial de captação foi 24.150 litros (telhados com cobertura de 40 m) e o maior, 60.375 litros, para habitações com superfície de cobertura de 100 m.
Ocorrência de chuvas
Esses cinco cenários representam a ocorrência de chuvas igual à média histórica; o maior valor verificado nesses 43 anos; e os três valores que mais tendem a se repetir durante quatro anos (um ano acima da média, dois em torno da média e um ano pouco abaixo da média). Em apenas um dos cenários estudados, o total de chuvas verificado não supriu a necessidade anual de uma família. Foi o caso de 1998, quando a pluviometria no Município atingiu apenas 244,8 mm, o pior da série histórica. No entanto, conforme o estudo, a probabilidade de ocorrência de um ano como aquele é de apenas 2,2%.
Segundo o estudioso, os números mostram que o grande problema de Quixadá não está na falta de chuva, mas no armazenamento inadequado e no uso inapropriado da água. "Cheguei aqui em Quixadá durante uma ´seca horrível´ no fim de 2008. Mas logo no ano seguinte, houve muita chuva e a cidade sofreu na época. Isso é um paradoxo. Constatei que aqui existe um vício hidrológico, a esperança do povo é sempre que a chuva venha depois", constata o pesquisador.
Para Lucas da Silva, natural da Paraíba, onde o quadro meteorológico é semelhante, a primeira mudança de comportamento necessária em Quixadá é o gerenciamento do uso da água no período do inverno, de forma a armazenar o recurso hídrico para o restante do ano. "Não adianta pensar em grandes projetos de transposição e irrigação sem antes rever as tecnologias básicas de acumulação, como o uso das cisternas", defende.
O geógrafo sugere ao poder público, em parceria com os meios de comunicação, a divulgação para quais finalidades serve a água da chuva: consumo humano, cozinhar e beber. Além disso, ele indica a necessidade de uma melhor gestão do uso das cisternas bem como a ampliação dos programas de construção desse meio de armazenamento, na área urbana deste Município. A iniciativa pode se estender por toda a região.
O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que lançou no semiárido brasileiro a construção de cisternas de placas para captar água de chuvas, tornou-se política pública no primeiro governo do presidente Luís Inácio. No entanto, ainda hoje, a quantidade construída destes reservatórios ainda é bem menor do que a demanda. Além disso, as famílias não sabem usá-la corretamente.
SAIBA MAIS
ÁGUA
Para definir a quantidade de água necessária por família, a pesquisa considera dois valores, aceitos na literatura relacionada ao assunto: 14 litros por dia, para cozinhar e beber, e 20 litros/dia, inclusive para o banho
COEFICIENTE
No estudo, para se avaliar o potencial de água a ser captado em um telhado, 25% da água da chuva é desprezada. Esse percentual é o chamado "coeficiente de escoamento" e representa o volume perdido antes da armazenagem. Um milímetro de chuva equivale um litro de água por metro quadrado
DESVIO PADRÃO
No estudo, os pesquisadores chegaram à conclusão que o desvio padrão mensal da pluviometria chega a 77,6% da média de chuvas mensal e a 38% da média anual (o desvio é a dispersão em relação à média esperada). Esta situação é retrato da grande variabilidade da ocorrência de chuvas na região Nordeste
MAIS INFORMAÇÕES
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Quixadá, Estrada do Cedro, Km 05, (88) 3412.0111
Alex Pimentel
Colaborador
FONTE DIARIO DO NORDESTE
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