Klinger Portella, iG São Paulo
Uma década de crescimento. Depois de 30 anos, finalmente o País parece ter entrado numa fase sustentável de crescimento econômico, segundo economistas ouvidos pelo iG. Nesse novo cenário, projeções do banco americano BofA Merrill Lynch apontam que o PIB per capita brasileiro ultrapassará a casa dos US$ 10 mil ainda nos dois primeiros anos da nova década, saltando de US$ 7,9 mil, em 2009, para US$ 10,9 mil, em 2011.
“A possível década de crescimento reflete o amadurecimento gradual e testado de um modelo de gestão na área macroeconômica capaz de evitar as crises que periodicamente nos assolaram durante 15 anos ou mais”, diz Armínio Fraga, presidente do Banco Central entre os anos de 1999 e 2003, sócio da Gávea Investimentos.
A década de crescimento trouxe importantes avanços no cenário econômico. Entre 2003 e 2008, cerca de 32 milhões de brasileiros ingressaram no mercado consumidor. Mais de 97 milhões de pessoas, ou 49% da população nacional, passaram a fazer parte da classe C, quando 25,8 milhões saltaram para a classe média.
O Brasil inicia a nova década com 35,5% da população com acesso à Internet, mais de 53 milhões de televisores vendidos, 23 milhões de máquinas de lavar, 2,5 milhões de veículos novos emplacados por ano e 150 milhões de telefones celulares.
Após voo da galinha e década perdida
Entre os anos de 2001 e 2008, a taxa média de crescimento do PIB foi de 3,63%. Na década de 1990, a década do “voo de galinha”, a alta tinha sido de 2,54%. Nos anos 1980, conhecidos como a década perdida, de 1,57%. Desde a segunda crise do petróleo, em 1979, o País não conseguia estabelecer uma década inteira de avanço econômico. Com PIB positivo desde 1993 e com tendência de nova alta para 2010, nem mesmo a esperada retração para 2009 é encarada como um problema nos fundamentos econômicos que ameaçam o crescimento, mas sim como reflexo da crise.
Segundo Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o fim do câmbio fixo, a inclusão das camadas mais pobres no mercado consumidor e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram os fatores que contribuíram para o crescimento da economia. “A crise de 1999 fez com que o Brasil abandonasse o regime de câmbio fixo, abrindo a possibilidade de o País voltar a exportar e recuperar o nível de emprego.”
Thaís Marzola, sócia da consultoria Rosenberg & Associados, afirma que, internamente, o País conseguiu uma estabilização graças ao tripé política fiscal responsável, regime de metas de inflação e câmbio flutuante. “O Brasil teve o mérito de ter a continuidade das políticas econômicas na transição política em 2002”, diz. “Institucionalmente, saímos fortalecidos.”
O mérito, no entanto, não foi exclusivamente da manutenção das políticas econômicas pelo atual governo. Simão Silber, professor da Universidade de São Paulo, diz que “o desempenho econômico não chega a ser uma década de ouro”, já que o cenário internacional era muito favorável. “Pegamos quase sete anos de céu de brigadeiro. As crises internacionais só voltaram em 2008”, diz.
Demanda chinesa
Puxadas pela demanda crescente da China, as exportações de commodities elevaram o saldo da balança comercial e ajudaram o País a equilibrar as contas externas. As reservas internacionais ultrapassaram a casa dos US$ 200 bilhões. O País conseguiu quitar as dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que se arrastavam há mais de 50 anos e, pela primeira vez na história, tornou-se credor da instituição, com empréstimo de US$ 10 bilhões, em 2009.
O Brasil também atingiu o status de “grau de investimento” e chegou a ser alçado à condição de “bola da vez” para os investidores internacionais. A revista britânica “The Economist” – uma das mais influentes do mundo – publicou em dezembro um especial, mostrando que o País pode chegar ao posto de quinta maior economia do mundo na próxima década, ultrapassando Itália, Reino Unido e França. “É possível”, diz Armínio Fraga. No entanto, ele faz um alerta: “Se não houver cuidado com a infraestrutura, a educação e o gasto público, é possível que a taxa de crescimento caia abaixo dos 4,5%”.
Para Marcio Pochmann, “dada a experiência histórica, só tem sentido sermos a quinta maior economia do mundo, se formos a quinta melhor sociedade”, afirma. “Ser a quinta economia com o grau de exclusão maior ou igual ao que temos atualmente é algo muito louvável somente para os que se beneficiaram do País.”
FONTE ULTIMO SEGUNDO
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