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domingo, 19 de setembro de 2010

EMPRESAS BRSILEIRAS AMPLIAM OPERAÇÕES NA AMÉRICA LATINA

Mariana Mainenti

Visto há até pouco tempo por muitos historiadores, economistas e especialistas em Relações Internacionais como um país que tradicionalmente esteve isolado de seu entorno, o Brasil parece estar consolidando a tendência oposta. Cada vez mais os empresários brasileiros observam e aproveitam oportunidades na América Latina, que, pelos cálculos da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), irá crescer 5,2% em 2010. O aumento da renda, a melhora nas contas públicas e os investimentos em infraestrutura estão fazendo da região uma alternativa a mercados tradicionais, como Europa e Estados Unidos, ainda mais impactados com a crise internacional.
A Odebrecht América Latina e Angola tem US$ 3 bilhões em investimentos já contratados nos países latino-americanos. A empresa se prepara para começar a construção, no início do ano que vem, da estrada Rota do Sol, de 540km, um negócio de US$ 1,2 bilhão em território colombiano. No Peru, ela constrói a hidrelétrica de Chaglla, primeiro investimento do grupo na área de energia fora do Brasil, do qual ganhou a concessão definitiva há dois meses.
A construtora é responsável ainda pelos investimentos nos corredores viários interoceânicos Sul e Norte. Em Lima, construiu o porto que servirá à recém-inaugurada mina de rocha fosfática de Bayovár, da Vale, um investimento de US$ 566 milhões da mineradora, e está fazendo outro porto em Melchorita, para embarque de gás liquefeito. A Odebrecht toca também a construção de um trem elétrico, elevado, que servirá ao transporte de massa na capital peruana. E, no Panamá, constrói uma estação de tratamento de água em La Palma.
Sustentabilidade
"Existem alguns países no nosso entorno que há algum tempo estão sinalizando taxas de crescimento sustentável. O Peru vem fazendo um planejamento responsável das contas públicas e está recuperando os investimentos externos, a Colômbia demonstra que o problema com as Farc está se resolvendo, a Argentina está dando uma sinalização bastante favorável de recuperação%u201D, disse ao Correio o presidente da Odebrecht para América Latina e Angola, Luiz Mameri, que retornou no início do mês de uma viagem ao Panamá e à República Dominicana, dois países que considera promissores na região.
A Dedini está encontrando nos vizinhos uma alternativa para aumentar as vendas relacionadas a açúcar, etanol e bioenergia em um momento em que essa indústria no Brasil ainda está em processo de retomada. %u201CO setor sucroalcooleiro ainda não superou a crise de 2008, está mais em fase de consolidação do que de novas encomendas. No conjunto, os países da região não têm o mesmo nível de investimento do Brasil, mas estão em fase de crescimento%u201D, compara o vice-presidente de Tecnologia da Dedini, José Luiz Olivério. Em junho, a empresa fechou contrato para fornecimento de um difusor modular Dedini Bosch com capacidade para 12 mil toneladas de cana para a usina boliviana Engenho Aguaí. A entrega está prevista para 30 de março de 2011.
Nos últimos três anos, forneceu equipamentos para quatro plantas completas de desidratação de etanol no Caribe: três para a Jamaica e uma para as Ilhas Virgens. Esta última é a maior unidade desidratadora do mundo, com capacidade de 1,1 milhão de litros de etanol por dia. Ela recebe o etanol hidratado (que é usado em carros flex) e transforma em etanol anidro, que pode ser misturado à gasolina e é exportado para os Estados Unidos. O negócio torna-se ainda mais promissor porque os países caribenhos podem exportar etanol para os EUA com tarifa zero.
Em setembro, a Dedini entrega um equipamento de moagem para a Engenhos El Angel, de El Salvador. Outro será entregue para a mexicana Usina Três Vales, da Coca-Cola do México, um negócio favorecido pelo momento de recuperação do setor canavieiro no México. Em novembro passado, a empresa forneceu ainda uma planta no esquema %u201Cchave na mão%u201D para a usina uruguaia Alur, com capacidade de produção de 120 mil litros de etanol por dia. Além de todos os negócios já concluídos, a companhia está de olho em outro país da região: %u201CO Peru tem oportunidades. Temos vários projetos que estão sendo estudados lá%u201D, revela Olivério.
Consumo
Diretor de gestão comercial da Natura na América Latina, Heriovaldo Silva anima-se com as perspectivas para o mercado de cosméticos na região. %u201CDe forma geral, os países latino-americanos estão vivendo uma recuperação em 2010. O aumento da renda estimula o consumo. Com isso, o mercado de cosméticos está tendo um aumento de performance acima do crescimento médio dos países, que é de 4%, 5%%u201D, diz. Do faturamento da Natura no segundo trimestre, 7% vieram das vendas em outros países da região. A empresa tem operação própria na Argentina, no Chile e no Peru e atua com parceiros na Bolívia, em Honduras, El Salvador e Guatemala.
Na opinião da economista sênior para América Latina do banco RBS, Zeina Latif, o aumento da renda irá atrair investimentos para a região: %u201CNo passado, a lógica do investimento direto estrangeiro tinha muito a ver com recursos naturais. Hoje também tem esse apelo, por causa do petróleo %u2014 caso de Brasil e Colômbia, por exemplo %u2014, mas o potencial do mercado consumidor interno é um fenômeno na América Latina%u201D.
Nas estimativas da Cepal, além do Brasil %u2014 que cresceria 7,6% em 2010 %u2014 taxas de expansão acima da média da região são esperadas este ano para o Uruguai (7%), o Paraguai (7%), a Argentina (6,8%), o Peru (6,7%) e a República Dominicana (6%). O Panamá crescerá 5%; a Bolívia, 4,5%; o Chile, 4,3%; o México, 4,1%; e a Colômbia, 3,7%. A comissão prevê que as exportações da América Latina e do Caribe aumentarão 21,4% em 2010.

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